Algo que sempre me chamou a atenção ao longo dos anos em que trabalho como consultor é o quanto é difícil para as pessoas definirem metas claras e objetivas.
É algo que, apesar de incrível, é também bastante compreensível… Algo que as pessoas raramente se dão conta é que a partir do momento em que você define uma meta, você também acaba definindo um parâmetro claro para o fracasso.
Ou seja, se você define, por exemplo, que quer emagrecer 10 quilos em 12 meses, você sabe que, se chegar ao final dos 12 meses e não tiver emagrecido os 10 quilos (ainda que você tenha emagrecido, digamos, 8 quilos) na prática, ou melhor, “no papel”, você fracassou.
Mesmo tendo um resultado bastante expressivo (emagrecer 8 quilos, ainda que em um ano, não é uma tarefa nada fácil), vai acabar ficando um gostinho amargo de não ter alcançado aquilo que você definiu. Se o resultado for menor, ou inexistente, aí o sentimento pode ir além da frustração… Se torna vergonha.
O que a maioria das pessoas dizem, nessa hora, é “levante a cabeça, sacuda a poeira e siga em frente”…
Como se isso fosse tão fácil…
O fato é que, realmente, não atingir um objetivo dói. E que não é tão fácil assim “sacudir a poeira”. E eu, honestamente, acredito que esse nem seja o melhor conselho.
Imagine se, por exemplo, você está esperando o resultado de um trabalho ou uma promoção no trabalho e promete para seu filho que vai dar um PlayStation 5 para ele de Natal. Isso não é diferente de definir uma meta. Você tem um objetivo específico, mensurável (comprar ou não comprar), uma data para cumprir, é importante para você (e para seu filho) e, no momento da definição desse objetivo parecia alcançável.
Então se algo do planejamento acabar não se cumprindo e você não tiver o recurso necessário para cumprir sua promessa, com certeza isso provocaria muitos sentimentos negativos, em você e em seu filho.
Por isso às vezes parece ser mais fácil simplesmente não prometer (e, por consequência se comprometer com) nenhum resultado.
Eu mesmo, na adolescência, garanti a meus amigos que seria milionário antes dos 30 anos… O que acabou não acontecendo e virando motivo de piada nos churrascos e confraternizações quando nos encontramos. 😂
O que fazer, então, para perder o medo de definir metas e, efetivamente, correr atrás de cumpri-las?
Em primeiro lugar, não defina uma meta muito fácil nem muito difícil (ou improvável) de realizar. Em ambas as situações seu sistema nervoso não irá fornecer a dopamina necessária para motivar você na realização dessa meta. Procure, então, definir algo que desafie você na medida certa.
Depois divida essa meta em pequenas partes, de preferência em uma sequência ordenada que facilite para você monitorar o andamento de seu desempenho. No exemplo de emagrecer 10 quilos em 12 meses, você pode monitorar se está emagrecendo ao menos 850 gramas por mês.
Agora imagine que você não só não conseguiu cumprir essa meta, como também a situação piorou drasticamente. O que estaria acontecendo na sua vida? Ao contrário do conhecimento popular, é cientificamente provado que imaginar o fracasso no longo prazo é mais eficaz para motivar a ação do que imaginar o sucesso.
No fim das contas, quando digo que não acredito que “sacudir a poeira” seja o melhor conselho é porque sim, eventualmente você deve erguer a cabeça e tentar de novo, mas não sem antes passar, viver e sentir a experiência da frustração pela eventual derrota.
Simplesmente fingir que ela não aconteceu, desmerecer o motivo do fracasso (“foi azar”) é contraproducente. Muito mais eficaz é poder se permitir sentir e processar a dor, entender os motivos da falha e pensar proativamente em como corrigir os erros.
Não me entenda mal: não é um desejo sádico e pessoal meu que você se frustre (muito pelo contrário), mas que você possa aprender com a frustração. E, aprendendo, possa seguir se aprimorando até realizar e concretizar efetivamente suas metas.
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